O que falta no Aeroporto de Feira de Santana? Essa é a
pergunta que muitos se fazem ao saberem que esse equipamento existe na cidade.
De muito pouca, a oferta de voos passou para quase nenhuma. Entretanto o
aeroporto segue funcionando todos os dias da semana. A equipe do Jornal Tribuna
Feirense foi atrás de respostas sobre o assunto.
De acordo com um relatório executivo produzido pela
Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República (SAC/PR), o potencial
de passageiros em Feira é de mais de 266 mil pessoas. Contudo um número muito
menor que esse passa pelo aeroporto local. Entre janeiro e novembro de 2017, o
Aeroporto João Durval Carneiro (FEC) movimentou 5.792 passageiros, entre
embarques e desembarques de voos comerciais. Muito abaixo do estimado pela SAC,
porém, dentro do possível, levando em consideração que apenas um voo é operado
semanalmente na cidade.
Quando perguntada sobre o número de passageiros que tornava
um aeroporto viável, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) respondeu que “A
viabilidade de um aeroporto depende dos investimentos do operador
aeroportuário, do interesse das companhias aéreas e do turismo e
desenvolvimento local”. Para tanto, nossa equipe foi até o Aeroporto de Feira e
tentou conversar com o único funcionário que estava no local. O rapaz não quis
se identificar e não forneceu informações sobre o funcionamento da estrutura.
Ao entrar em contato com a direção administrativa da empresa Aeroporto Feira de
Santana (AFS), a resposta fornecida pelo funcionário foi: “parte técnica
respondo à Anac”.
Atualmente, existe em Feira apenas um voo semanal operado
pela empresa Azul Linhas Aéreas. O avião sai às 14h50 do Aeroporto João Durval
Carneiro, em Feira de Santana (SBFE/FEC), aos domingos, e vai até o Aeroporto
de Confins (CNF), em Belo Horizonte. Porém o voo não é direto. Tem escala no
Aeroporto Luis Eduardo Magalhães, em Salvador. E, no total, apresenta uma
duração estimada (de acordo com o site da Azul) de 2 horas e 50 minutos.
Segundo a assessoria de comunicação da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transporte e Comunicações da Bahia (Agerba), até o momento, nenhuma outra empresa aérea realizou pedido formal para dar início à operação de voos no aeroporto de Feira.
QUESTÃO ECONÔMICA
Nossa equipe pesquisou os preços de passagens nos aeroportos
de Feira e Salvador com destino ao Aeroporto de Confins. Saindo de Feira de
Santana, no voo operado pela Azul, no dia 18 de março de 2018 (data escolhida
hipoteticamente para a pesquisa), o passageiro tem de desembolsar R$ 600,15. A
viagem tem duração de 2h40 e, como dito anteriormente, o voo não é direto. Já o
usuário que optar por ir de Salvador até Confins conta com passagens a partir
de R$ 278,00, com voo direto de duração de 01h45. Supondo que o passageiro vá
de Feira de Santana até Salvador através de translado particular (que tem um
custo médio de R$ 90,00), ainda assim fica mais vantajoso financeiramente ir
por Salvador, já que os gastos ficam num total de R$ 378,00. A economia total é
de R$ 232,00.
O fato de ter apenas um voo, com preço muito mais alto do
que os disponíveis no terminal de Salvador, e de que esse voo é apenas de ida,
dificulta bastante para quem quer utilizar o aeroporto de Feira de
Santana.
A verdade é que a maior movimentação do aeroporto
feirense se dá por aviões particulares, e não pelo voo semanal oferecido pela
Azul. Não tivemos acesso a um número, mas sabe-se que várias são as aeronaves
que abastecem e/ou pousam na cidade. No período do São João de 2017, por exemplo,
o pátio do aeroporto comportou cerca de dez aeronaves ao mesmo tempo. Todas
elas de cantores que fizeram shows na cidade e redondezas.
O Piloto Comercial Multi IFR Liebert Santana é um dos
profissionais que geralmente passa por Feira. Ele diz que já utilizou o
equipamento tanto para abastecimento de combustível como para permanecer um
tempo.
O piloto considera a estrutura do aeroporto FEC excelente,
em comparação com outras instalações. “Já pousei diversas vezes em Feira e
considero a estrutura muito boa. O fato de o aeroporto possuir um posto de
combustível é importantíssimo e bastante necessário, o problema são as taxas”,
explica.
Liebert contou para a nossa equipe que uma vez pousou em Feira às 17 horas e decolou às 20 horas. Durante o período de 3 horas, teve de pagar, aproximadamente, R$500,00, entre taxas de pouso e de permanência na área de pátio do aeroporto feirense.
VOOS GUIADOS POR INSTRUMENTOS
Apesar da estrutura técnica do aeroporto de Feira de Santana
ser considerada boa, o fato de o local não operar voos guiados por instrumentos
(IFR) é um empecilho para o desenvolvimento do equipamento.
O IFR (Instrument Flight Rules ou Regras de Voo por
Instrumentos) é o conjunto de regras que o piloto tem que seguir para conduzir
a aeronave, orientando-se por instrumentos. Esse tipo de operação é necessária
quando não há referências visuais para os pilotos e os controladores de voo,
mas também pode ser uma opção do piloto em voos noturnos ou de longa distância.
Com o IFR, as aeronaves poderiam pousar em Feira mesmo que
os pilotos enfrentassem restrições de visibilidade por conta do mau tempo,
visto que seriam guiados pelos os instrumentos de bordo.
Diversas foram as vezes em que o mau tempo atrapalhou a viagem de passageiros de Feira. Vetusa Pereira foi uma das prejudicadas em 2016, quando a Azul ainda realizava o voo para Campinas (aeroporto de Viracopos). “O avião não conseguiu pousar porque aqui estava chovendo. Eu e os demais passageiros fomos para Salvador, ficamos em um hotel próximo ao aeroporto e no dia seguinte embarcamos bem cedo”, relata a passageira.
Nesses casos, os custos de transporte, refeição e hospedagem
são de responsabilidade da companhia aérea, mas a situação não deixa de ser um
transtorno para os passageiros. Se o aeroporto feirense operasse com IFR,
situações como essa não aconteceriam, já que o piloto poderia orientar-se pelos
instrumentos de bordo, e não somente por referências visuais exteriores a
aeronave.
Eis que surge uma pergunta-chave: o que falta para que Feira
tenha IFR? Algumas adequações são necessárias, mas nada tão complicado a ponto
de impedir a implantação. A principal delas é que a distância entre o centro da
pista e o muro do aeroporto deve ser aumentada. A distância atual é de 90
metros, mas para contar com o IFR, esse espaço deve ser de, no mínimo, 150
metros.
Cabe agora ao Governo do Estado realizar as obras para
adequação da pista. De acordo com a assessoria da Agerba, para implantação de
operação IFR no Aeroporto de Feira de Santana será necessário aumentar sua área
patrimonial e, em consequência disso, desapropriar imóveis na região. A
resposta recebida pela nossa equipe foi a de que "o Estado já está tomando
as devidas providências para ampliação da área patrimonial do aeroporto".
Na verdade, a área em torno do aeroporto já foi
desapropriada e corresponde a cerca de 4 quilômetros de comprimento por 1
quilômetro de largura. O primeiro decreto de desapropriação saiu em 2011. O que
falta é o governo indenizar os proprietários e moradores dos imóveis
construídos ou dos terrenos localizados dentro desse perímetro.
Vale ressaltar que, além de Salvador, Vitória da Conquista
atende a voos guiados por instrumentos, de acordo com a Secretaria de
Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra). O Aeroporto Pedro Otacílio
Figueiredo possui voos diários para Salvador, São Paulo e Belo Horizonte,
operados pelas companhias aéreas Azul e Passaredo.
Por Vanessa Testa, Jornal Tribuna Feirense
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