sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Menino que trabalhava para o tráfico vivia sozinho em casa

Um menino assustado, que correu quando viu a viatura da polícia militar se aproximando, denunciou sem querer um ponto de venda de drogas e revelou que a criminalidade não espera nem pela adolescência para aliciar menores. Aos 10 anos, o garoto já “prestava serviço” a uma dupla de traficantes em uma invasão no conjunto Feira IV, em Feira de Santana, recebendo como pagamento R$ 2 (dois reais) por dia.

A tarefa era vigiar as redondezas, para dar o aviso, caso a polícia se aproximasse. Cumpriu a função duplamente, alertando os bandidos, que fugiram abandonando 26,5 quilos de maconha e chamando a atenção da polícia, quando também saiu correndo sem motivo aparente.

Capturado, levou os policiais na casa onde a droga estava, acondicionada em tabletes e dentro de um saco em estado bruto. Os PMs acharam também duas espingardas de fabricação caseira e levaram o menino para a Delegacia do Adolescente Infrator.

Foi um recorde negativo para a delegada Dorean Soares, que nunca tinha conhecido alguém tão novo envolvido com o crime. Oficialmente, nem pôde ouvi-lo em depoimento, pois pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, apenas a partir de 12 anos completos isso pode ocorrer.

Na conversa informal que teve com o garoto, Dorean avaliou que ele é pequeno o suficiente para não estar de fato envolvido pela ilegalidade e que ainda mantém a ingenuidade infantil. “Ele pode ser perfeitamente afastado disso”, acredita. Há mais ou menos um mês ele estava na função.

Com o pai falecido, ele estava sozinho em casa. A mãe está cuidando de um irmão paraplégico no hospital e deixou o caçula aos cuidados de outros três filhos menores. Todos saíram de casa, e têm rumo ignorado, segundo a delegada. “A mãe admitiu que não tem condições de cuidar dele”, completou.

Diante do quadro de desamparo e do risco que o menino corre, já que acabou denunciando seus “empregadores”, o juiz da Infância e Adolescência, Walter Ribeiro Júnior, determinou que ele ficará em um abrigo e não mais sob a guarda da mãe.

Fonte: Glauco Wanderley ( A Tarde )

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